de Ílhavo a Oeiras passando por Moçambique

um blog de Manuel Machado da Graça, onde se vão publicando textos e gravuras que ele nos deixou, fotos e outras recordações.

Nome:
Localização: Maputo, Mozambique

segunda-feira, junho 19, 2006

Censura

Hoje publicamos aqui uma "gazetilha" de MMG que, na altura, não chegou ao público. Foi cortada pela censura...

GAZETILHA

- Não é caso p’ra admirar

Pois quem pode tudo vence –

Dirá quem me ouvir falar,

Mas eu não posso gramar

Como é parte mais central

E que fica mais à mão,

Já não me parece mal

Para tão perto da Praça

(Olha que coisa tão feia

Impróprio da nossa raça!)

Deu-lhes agora na cabaça

Estimo isto saber

Não gabo, porém, a ideia.

Mas mal não posso dizer,

Pois é caso p’ra temer

Ter já tão perto a cadeia.

PIRO LITO

Cortada pela Censura

B.M. 6/2/927

quinta-feira, junho 15, 2006

Monografia do "Alcina"

COSTA-NOVA:

MONOGRAFIA DO “ALCINA”

Apontamentos para a sua história

Factos inéditos, heroicidades e o mais que se verá,

que um nosso solícito investigador colheu na

Torre do Tombo.

PREAMBULO

Prevendo desde já alguns sorrisos incrédulos na maior parte dos meus leitores, cumpre-me indicar-lhes para que possam certificar-se, alguns dos manuscritos e apontamentos que consultei existentes na Torre do Tombo em Lisboa.

São eles: De res navallis portucalensis (1234 P.C.)

De bello iberico

Per Atlanticos, etc, etc…

Destes manuscritos colhi eu alguns apontamentos acerca do velho cruzador “Alcina”que, por me parecerem interessantes, dou hoje à luz da publicidade, pedindo desculpa ao proprietário do cruzador em questão, se acaso ofendo a sua modéstia.

C.

I

Foi na tomada de Lisboa aos mouros que pela primeira vez se se fala no “Alcina”, embora a sua origem seja considerada lendária, pois ainda não me foi possivel encontrar documentos autorizados que me indiquem a sua verdadeira idade, origem e nacionalidade.

O primeiro documento que nos fala dele é o De res navallis portucalensis e para que não perca a sua característica linguistica, transcrevo do original alguns períodos mais importantes:

“…Ante a ennorme armada de Cruzados q. a Lixboa vieron, vyron as gentes da hoste de Affonsus Enriques hua gran nau nomeada Älcina”q. fez nas mauras gentes gran temor…”

É curioso notar que já naquele tempo era temido de todos o “Alcina” pelo seu tamanho e formato e “pella ligeyreza q. havia no andar”.

Segundo nos conta o mesmo manuscrito a influência do “Alcina” na tomada de Lisboa foi enorme, pois só com o susto morreram muitos dos mouros que guarneciam a praça de Lisboa.

D. Afonso Henriques maravilhado pela beleza, leveza e ligeireza do crusador entrou em nogociações com o comandante da Crusada para a sua compra, conseguindo-o, apoz grande trabalho e “gran soma de dinheiros e coysas de guerrra e comer, q. en troca foron dados”.

Mandou-lhe D. Afonso armas em cima um cortinado de damasco vermelho, tendo para isso mandado fazer uns buracos na borda, buracos estes que ainda hoje se podem ver e que agora servem de suporte às forquetas dos rêmos, e que o seu actual dono conservou no estado em que os encontrou, para que não perdessem o gosto arcaico.

Depois da tomada de Lisboa ficou o “Alcina” ancorado no Tejo, servindo para D. Afonso passear nele nas horas de descanço que lhe deixavam as batalhas em que andava empenhado.

É do teor seguinte a parte que a este facto se refere o De bello iberico, manuscrito do tempo de D. Sancho primeiro:

“Don Afonsus avia costume dir a Sintra e Cascays quando non curava de andar em guerra cõ os sarracenos, indo no “Alcina” em q. mandara armar hum docel sob o qual se abrigava dos rayos e calores do Sol alto, q. en aquesta region era mui forte…”

Continuou o “Alcina” neste serviço até que D.Afonso III, o Bolonhez, se utilizou dele para trazer a Portugal sua esposa a princeza de Bolonha.

Se eu não temesse enfastear os meus leitores transcrevia do De res navallis portucalensis e descrição da viagem que teve incidentes curiosos. Não resisto, porem, a citar-lhes um desses muitos incidentes, para mostrar do que eram capazes os franceses do tempo, que, parece, não viam com bons olhos o casamento da sua princesa com o rei português.

Froi o caso que na volta, quando trazia já para Portugal a princesa e sua corte, notaram os marinheiros admirados que o “Alcina” apesar da sua conhecida e cubiçada velocidade, não conseguia acompanhar os outros bateis, tendo chegado a Lisboa com uma semana de atraso.

Só mais tarde quando lhe fizeram uma vistoria, notaram com espanto que lhe haviam pregado no fundo meia duzia de esteiras, que foram guardadas como recordação numa sala própria do paço real e que nos nossos dias tiveram um tão preponderante papel, como os leitores verão no prosseguimento desta “Monografia”.

Por carta régia de D.Diniz ficou o “Alcina” pertencendo ao serviço da corte:

“para q. el Rey e Rainha e todolos principes e principais do Reygno nelle podessem passeyar pelo rio q. chamão Tejo e pellos seus ribeiros. Mais mandou el-Rey e eu o escrevo q. seja nomeado hum dos filhos d’algo q. na Corte tem assento para q. o guardasse e aparelhasse o dito “Alcina” para q. el-Rey o achasse prompto quando passeyar Lhe aprouvesse”.

Não nos dizem as crónicas mas fácil será adivinhar que D.Isabel, esposa de D.Diniz, nele foi muitas vezes às vizinhanças de Lisboa distribuir as suas costumadas esmolas.

Para as guardar mandara cobrir parte da ré e aí as colocara para as esconder de seu régio esposo.

Era por este tempo o “Alcina” pintado a azul e branco, com as armas reais pintadas do chamado guarda-patrão.

Na proa, pintadas a ouro, viam-se duas sereias, como que levantando o crusador para lhe aumentar a velocidade.

II

Quando D. Pedro I se enamorou de D. Inês de Castro e para que com ela pudesse falar, mandou que levassem o “Alcina” para Coimbra e era nele que D. Pedro atravessava o Mondego para Santa-Clara.

Assim o diz a crónica:

“Don Petrus, primeyro no nome, Filho q. he de Don Afonsus IV, por Graça de Deos, nosso Rei e senhor, manda q. seja levado para a villa de Coimbra, pello mondego arriba, a nau q. chamão alcina e q. ao sserviço da Corte se conserva, para q. Elle possa hir nelle a Santa-clara fallar d’amor a Dona Ignes q. Lhe ha roubado o coraçon”.

No reinado de D. Fernando nada de notavel se passou que seja aproveitavel para esta monografia relampago.

Com as lutas entre Portugal e Castela também o “Alcina” foi esquecido, jazendo a apodrecer no rio Tejo.

D. João II quando estudava a possibilidade da viagem à India lembrou-se de aproveitar o “Alcina” que ele ainda considerava rapido e bonito.

Quando, porem, lhe quiseram fazer algumas transformações que o tamanho e dificuldades da viagem requeriam, ficaram pasmados por encontrar já em adeantado estado de putrefacção a madeira de que o “Alcina”era feito, tendo, por isso de se desistir da comparência do referido crusador na projectada viagem.

Deste momento em deante as informações desaparecem por completo, motivo por que tenho de fazer aqui uma solução de continuidade, passando a fazer a monografia dos nossos tempos que tem factos que, apesar de contemporâneos, não deixam de ser algo interessantes.

Já no último número expliquei a razão da não continuação da antiga história do “Alcina”.

A causa foi o desaparecimento dos documentos que com todo o cuidado eu colhi na Torre do Tombo em Lisboa.

Como eles desapareceram, não sei. E quem é que sabe como desaparecem as suas coisas?

Sei tanto quem m’os roubou, como a ti Serrana sabe quem lhe roubou os galos e o Pitato quem lhe roubou os polvos.

Em virtude do desaparecimento é com tristeza minha que começo hoje a narrativa dos feitos do “Alcina” na actualidade.

Estava indicado que eu fosse informado pelo actual dono, o sr. Capitão Calixto Ruivo.

S.Exa. recebe-nos amavel e delicadamente no gabinete do seu formoso chalet na Costa Nova e presta-se de boamente a informar-nos.

Em virtude do a vontade em que S.Exa. nos poz atrevemo-nos a fazer-lhe a primeira pergunta:

- Em que ano e como comprou V.Exa. o “Alcina” ?

O sr. Capitão Calixto abre os lábios num sorriso franco, pretexto para mostrar os seus belos dentes e responde-nos:

- Olhe. O barco foi por mim comprado num leilão de velharias históricas há uns bons 30 anos a quando da minha viagem à Ponta Calheta, nas faldas da serra da Estrela.

- Trouxe-o depois para cá, não é verdade?

- Sim trouxe e por tal sinal que quando ia a iça-lo para bordo a roda de proa despegou-se do resto, não porque estivesse podre mas porque a pregagem não estava em termos.

- Decorreu bem a viagem? perguntamos nós.

- Decorreu bem, sem caso de maior, até às alturas do Cabo Pedricosa, 32 graus a NE de Sinfães de Cima. Porem, ao chegarmos ali desencadeou-se uma valentwe trovoada que fez com que o “Alcina” perdesse algumas tábuas que mais tarde foram substituidas por duas chapas de ferro, o que lhe aumentou o peso e consequentemente lhe diminuiu a velocidade.

- Quais as impressões do público à sua chegada? Inquirimos.

- As impressões foram as melhores, enquanto não viram o barco a andar… Porém…

E nesta altura o ti Calixto enguliu em seco duas vezes e leu-se-lhe nos olhos o amargor da triste verdade que ia confessar.

- Porem, quando viram que o o barco mal se movia ao ser timonado por quatro possantes remadores, a decepção foi grande e os manifestantes retiraram em debandada alcunhando de triste, de draga e de muitos outros nomes feios o meu belo “Alcina” que tanto estimava. Desse dia para cá tenho vivido um verdadeiro martírio.

- ?…

- Eu lhe conto. Quando passava em Ílhavo a festa do Senhor Jesus, não me largavam. Uns diziam: “Olhe ti Calixto, o melhor é vendê-lo para lenha”. Outros: “A peso talvez dê dinheiro” e um mais atrevido até me disse: “O melhor é você alugá-lo para ir no andor do Senhor Jesus que é a única maneira de ele andar”.

- Realmente isso arrelia…observamos.

- Arrelia sim; e tanto que o não desejo ao meu pior inimigo.

- Mas não haveria em Ílhavo quem gostasse do “Alcina”?

- Qual história! Calcule que até o Américo Teles teve a ideia de fundar em Ílhavo um Museu…

- Mas que tem o Museu com o seu barco?

- Ora, ora! Decerto não os conhece. Ninguém me tira da cabeça que o Museu se faz unicamente para lá o meterem a apontar às gerações futuras o maior errro em que eu caí, comprando esse maldito barco que parece que só tinha corda para andar no dia em que o comprei.

- Foi então vigarisado, não é verdade?

À face do senhor capitão assoma um rubor que foi todo uma confissão.

Nos olhos do ti Calixto brilhou por momentos um lampejo de ódio mal contido que em breve se dissipou, dando lugar ao seu belo sorriso de satisfação.

- Pelos vistos o “Alcina” só lhe tem dado desgostos e martírios?!…

- É verdade. Olhe que às vezes tenho momentos de tão grande arrelia que a minha vontade era queimar o bote. O que lhe tem valido é aparecerem nessas ocasiões alguns amigos que me consolam e confortam. Já que falei neles não quero deixar de citar um desses amigos, o Chico Calão, que sempre me diz bem do barco depois de ter dado nele um passeio.

- Não será isso dito por troça? Olhe que, segundo diz o “Beira-Mar” o Chico é uma língua de prata… insinuamos nós.

- Não. O Chico é sincero e bom conhecedor. Diz bem do barco porque acha que ele é bom.

- Não será talvez sugestionado por algumas chavenas de bom café?

- Não. Desminta isso no seu jornal. O Chico é incapaz de, perdoe-me a expressão, entrar comigo.

- Tem tido algumas victórias o seu “Alcina”, capitão? Perguntamos nós a fim de desviarmos o curso da conversa.

- Não. O raio do barco não anda. Olhe que da primeira vez que ele correu em regata ficou tanto para traz dos outros que eu para ter uma desculpa lhe preguei no fundo duas esteiras e fiz constar que lhas tinham pregado antes da corrida.

- ?!…

- Não diga isso no jornal, porque se o disser nunca mais me deixam.

- Descanse que eu nada direi.

- Obrigado.

Nesta altura o ti Calixto teve a amabilidade de nos oferecer uma chávena de saboroso café que bebemos com agrado. A conversa continua mas tão rápida que não tivemos tempo de registar.

Já à saida, quando nos despediamos lembrou-nos fazer ao ti Calixto mais uma pergunta…

- Que nos diz da recente falta de estopa?

- Cale-se lá. Não me fale nisso. Só consegui comprar um vagon dela, porisso tenho o bote a meter água por todos os lados. São tão grandes os buracos que até os peixes vão lá dentro fazer… ninho.

Foi esta a última informação. Com ela findámos a entrevista e com ela acabamos a “Monografia do Alcina”.

Beira-Mar 12/8/928

26/8/928

19/9/928

26/9/928

terça-feira, junho 13, 2006

O Farol

Para além dos textos que para lá escrevia, MMG também fazia gravuras para o Beira Mar. Normalmente gravuras em madeira.
Aqui fica uma delas. O Farol. Se de ílhavo ou de Aveiro é polémica em que não nos metemos...

domingo, junho 11, 2006

Crónica do Bico

CRÓNICA DO BICO

PARA AS DUAS MANAS LEREM E SE LEMBRAREM,

LÁ NA CAPITAL, DA HORA DO “BICO” .

Todos conhecem o “Bico”.

É aquela lingua de areia que, num gesto de arremetida, se meteu pela ria dentro, mas que ao chegar ao canal, talvez com medo, retrocedeu um pouco.

É no “Bico” que se passam as melhores horas da praia.

É nele que se concentra ainda parte do à vontade característico da Costa doutros tempos.

É dum cantinho onde me não vêem que eu vejo o “Bico”.

O Zé Julio – sempre dos primeiros a chegar – envergando já o seu maillot, faz com o primo Chico uma demonstração de saltos de peixe.

A Ma. Amélia e a tia, por detraz das ultimas barracas, aturam com toda a paciência um certo número de ‘bicos’ que no “Bico” fazem ponto de admiração.

É o Fernando (Conde da Costa), o Frinchas (Pratas do Largo dos Lóios), o Zé Craveiro (um dos mais altos banhistas), o Ernesto (à ultima hora tio das duas manas), o Chiquinho (o dos Fados na Assembleia) e tantos outros que os não posso enumerar.

Falam de tudo e de todos e em particular do ultimo número da Beira-Mar.

A Ma. Amélia mede bem as suas palavras, com mêdo do reporter; contudo às vezes falha e …é o diabo.

O Carlinhos, mais ao longe, abriga sob o seu chapeuzinho todo o seu grupo, e fala … de modas.

Mais adiante, à revessa duma barraca, a Odete e a Lurdes ouvem com atenção o Grilo a contar a história do homem que foi a uma taverna.

Lá ao fundo, ao sul do “Bico” há um desafio de Foot-ball. A Floripes petit em passes curtos conseguem passar à capa o António (o do gramofone) e meter goal. Noto que a Floripes está em boa forma.

xXx

Na segunda-feira fui pela ultima vez ao “Bico”.

Quanto me custou o retirar-me, ao lembrar-me dos bons bocadinhos que lá passei!

De dentro duma barraca, quando eu fazia as minhas despedidas, uma voz feminina cantou com todo o sentimento esta quadra:

Eu não gosto nem brincando

Dizer adeus a ninguém

Quem parte leva saudades

Eu já esperava o último verso que era como que um alívio para a minha saudade, quando doutra barraca próxima uma voz máscula terminou:

Quem fica não vai no trem.

Reporter

Beira Mar 15/06/ 1927

sábado, junho 10, 2006

Como ele era

MMG na época a que remontam os textos que estamos a publicar. É a foto mais antiga que dele possuimos.

sexta-feira, junho 09, 2006

Versos

DIA DE FESTA NA SENHORA DAS

DORES

Ao Constipado

Movimento

Há na praça

Que nos massa

Num momento

Sem sentir

Vão partir

Camionetes,

Bicicletes,

E há Fords

Feitos lords

A correr

A voar

P’ra levar

Para a festa

Gente lesta

P’ra gosar

…………….

…………….

Na capela

P’ra resar

Vai muita gente

Indif’rente

Feia e bela,

A entrar

Pela quinta

Que se pinta

De flores

Como amores,

Vão meninas

Pequeninas,

E meninos

Pequeninos

A saltar,

A cantar.

Mais além,

Há também

Muitos ranchos

Que mui anchos

Vão comendo,

Vão roendo

O folar

Que lhes deu

P’ra levar

Há kodacks,

P’ra tirar

Os retratos

Estão meninas

E meninos

Mui pacatos

A esperar.

Um basbaque

‘Stá a mecher

Num kodack

Que uma menina

Que é rabina

Tem na mão.

Não repara

lá na cara

Que a menina

Está a fazer.

Continua

A mecher

Entretido

Ela amua

Olhou-o

E alcunhou

D’atrevido.

Há rapazes

Que capaxes

São de tudo.

Vão deitando

Os olhares

E roubando

Os folares.

…………….

…………….

Tenho dó

Faz-me dano

Que bons dias

Como este

De folias

Haja só

Um no ano.

S.I. Zudo

(Beira-Mar 17/4/926)

O Prato das Peras

Recebemos uma primeira contribuição familiar para o blog. A Maria Luisa e o Albino mandaram esta foto do Prato das Peras. Transcrevo as palavras do Albino:

História (conhecida) do Prato das Peras

Veio de Ílhavo onde, durante toda a infância da Luisa, ilustrou as paredes de uma sala.
Um dia que o teu Pai aqui veio a nossa casa identificou-o como artefacto seu. Terá pegado num prato churro e colou-lhe 4 peras em barro, moldadas e pintadas por ele.
A Luisa tem uma ideia um tanto vaga de que o teu Pai teria revestido quatro peras naturais com barro, mas não tem a certeza e eu também não.
O que é certo é que tem enganado muito boa gente que, a uma certa distância, as toma por verdadeiras.
E aqui continua como uma boa recordação do seu autor.

quinta-feira, junho 08, 2006

Correspondência de Coimbra

Nos anos de 1927 e 1928, MMG foi correspondente do jornal ilhavense Beira Mar, de que era colaborador, a partir de Coimbra:

DE COIMBRA

21 de Janeiro de 1927

(retardada na redacção)

Eis-me de novo atrapalhado, para fazer esta minha crónica semanal.

Por felicidade, meus caros leitores, a minha última crónica não lhes chegou às mãos, em virtude da suspensão da gazêta. Nào calculam a alegria que tive nessa altura. Safa! Que me livrei duma!

Se igualmente, consigo ver-me livre desta, dou graças ao Creadôr!

Enfim, isto tem que ser! Se a não mando, tenho para aí uma descompostura do Jaime, que já me não endireito.

XXX

No passado sábado, faleceu repentinamente o sr. Dr. Bazilio Freire, ilustre lente de Anatomia.

O seu cadáver foi constantemente velado, por estudantes de Medecina, e o seu enterro, que se efectuou na tarde de domingo, foi concorridíssimo.

O saudoso extinto contava 69 anos de idade.

XXX

Tem sido o assunto obrigatório de todas as conversas, o folhetinesco caso da mulher-homem.

O “Primeiro de Janeiro”que trazia uma larga e interessante reportagem do conhecido jornalista sr. Reinaldo Ferreira (Reporter X.) era rapidamente vendido (às vezes por preços exagerados) e devorado com avidez pelos felizes que conseguiram obtê-lo.

Com raras excepções, todos se inclinavam a acreditar que Rita Ferreira fosse Rito Ferreira.

XXX

De visita a sua filha, D. Alice Gonçalves Figueiredo vimos cá, ontem 20, a sra. D. Alice Figueiredo, digníssima professora primária dessa vila.

XXX

Como sempre, é aqui esperada com ansiedade, a chegada da “Beira-Mar”.

Os que a não assinam e os que por qualquer motivo a não recebem, andam numa roda-viva para casa dos felizes que a possuem, para sofregamente a lerem de fio a pavio.

É facil adivinhar o motivo. É que a “Beira-Mar” com a sua campanha pró Ílhavo é o jornal cá da rapaziada, assim como o devia ser de todos os ilhavenses que se presam.

M.G.

(Beira-Mar 6/2/927)

11 DE Fevereiro de 1927

Mais uma revolução! Mais uns milhões de escudos de deficit para o Estado!

Com’assim, enquanto o mundo for mundo, Portugal não deixará de ser o país das revoluções.

Isto é o pão nosso de cada dia, porisso não é de admirar.

Foi pena que desta vez a coisa estivesse séria, pois isto de revoluções é um divertimento que poucos países se gabam de ter tão a miudo.

No Porto, segundo informações, os mortos foram às dezenas. Em Lisboa, ao que consta, não foram menos. Nos feridos nem é bom falar!

Prejuizos materiais, tanto no Porto como em Lisboa, foram enormes. Quem os paga? Sabe-se lá!…

Cá em Coimbra a coisa resumiu-se a pequenas manifestações, a um movimento incessante de tropas e a suspensão de garantias. Assim, sim. Assim está bem. Até diverte. Agora como no Porto e em Lisba, livra!

Enfim lá se avenham conforme quizerem mas que deixem o povo em paz e socêgo.

- Está entre nós o nosso amigo sr. dr. José dos Santos Malaquias.

- De visita a suas primas está cá, devendo retirar-se amanhã o nosso amigo Manuel Marques.

M.G

Beira-Mar, 13/2/927

24 DE Fevereiro de 1927

Como estava marcada, realizou-se na passada quinta-feira, 17, a grande manifestação académica ao Governo.

Uma hora antes de passar aqui o comboio especial, formado no Porto, donde trazia já centenas de estudantes, já a gare da Estação Velha estava coalhada de capas negras.

Às 11 horas, hora a que devia passar o comboio, a anciedade é enorme.

Seriam aproximadamente onze horas e um quarto quando o comboio entra nas agulhas. Nas janelas agitam-se capas negras dos estudantes do Porto e de Aveiro.

À entrada na gare rompem efusivamente as saudações e começa um verdadeiro assalto às carruagens que vinham reservadas para a Academia Coimbrã.

Alguns minutos passados e o comboio, enorme fila de carruagens, 20 se me não falha a memória, põe-se em marcha, por entre a alegria esfusiante dos que partem e a tristeza dos que ficam…

M.G.

Beira-Mar, 5/3/927

10 DE Fevereiro de 1927

É com a maior ansiedade que aqui são esperadas notícias à cerca da Volta do Mundo em avião que está sendo tentada pelos nossos ilustres aviadores majores Sarmento Beires, comandante da equipe, e Duvale Portugal, capitão Jorge Castilho e alferes Gouveia, que tão brilhantemente foi iniciada.

Segundo notícias recebidas, a deslocagem em Bolama tem sido impossivel em virtude do estado atmosférico, mas é de crer, e desta opinião é o nosso grande az da aviação comandante Gago Coutinho, que nesta travessia do Atlântico num só voo, mais uma vez Portugal triunfe.

No Brasil, nos pontos que os nossos aviadores tencionam tocar, estão sendo preparadas grandes manifestações à sua chegada, tendo algumas localidades onde eles não tocam pedido à equipe que as honre com a sua amaragem.

Oxalá que o exito da viagem seja tão feliz como é grande o entusiasmo que lavra em todos os portugueses d’aquem e d’alem mar.

- A direcção do Orfeon Académico da Universidade, está tratando com afan da excursão planeada à Bélgica.

M.G

Beira-Mar, 13/3/927.

Quinta-feira 17

A cidade nestes últimos dias tem vivido em grande ansiedade, por motivo da falta de notícias dos nossos avadores que andam tentando a Volta ao Mundo.

Foi grande o desapontamento que se apossou do povo quando, no sábado passado, esperando-se de momento para momento a sua chegada ao Natal, chegou um telegrama anunciando que eles haviam descido em Bubaque, na ilha de Ago Grande do arquipélago de Bijagoz.

Desde esse dia em diante as notícias faltaram quasi que por completo.

Já muitos desanimavam quando hoje, quinta-feira, aí pela volta das duas da tarde, a cidade foi alarmada por foguetes, apitos de fábricas, sirenes de automóveis, etc.

- Chegaram os aviadores ao Natal!! Foi o grito que saiu de todas as bocas.

Infelizmente não foi ao Natal que chegaram, mas a Fernando Noronha. Apesar disso o entusiasmo é enorme.

À porta da “Central” forma-se um grande grupo de académicos que, em vivas entusiásticos, se dirigem, pela rua Visconde da Luz, ao telégrafo. À passagem do consulado brasileiro, a vinda à varanda do consul foi motivo para que a manifestação atingisse o auge. Da varanda o consul e uma comissão académica que for a cumprimentá-lo começa aos vivas que eram delirantemente correspondidos pelos estudantes e povo que a eles se juntara já.

Um estudante deita a capa aos ombros do consul, o que deu causa a uma prolongada salva de palmas. Do consulado, seguiram os estudantes, sempre em grande entusiasmo, por várias ruas.

Na Praça 8 de Maio, em frente ao telégrafo, o número de pessoas que esperavam mais notícias, é simplesmente enorme.

Pelas ruas Visconde da Luz e Ferreira Borges, segue agora uma grande fila de automóveis de praça levando o que seguia à frente um placard em que estava transcrito o telegrama recebido.

ã hora a que escrevo, ainda a Praça 8 de Maio e ruas Ferreira Borges e Visconde da Luz estão coalhadas de povo que, em frente das montras onde estavam afixados mapas da viagem editados pela “Shell” comentam esta última etape.

Na torre da Universidade e em vários edifícios públicos e particulares foi hasteada a bandeira nacional. Nos consulados também foram hasteadas as bandeiras dos respectivos paizes.

Estão profusamente iluminadas as fachadas da Câmara, Manutenção Militar e muitos outros edificios públicos e particulares. A torre da Universidade está também iluminada e pelas ruas da cidade anda uma banda de música.

- Estiveram cá ante-ontem tendo regressado no mesmo dia os srs. Francisco Teiga e Oliveiros Boia.

M.G.

Beira-Mar, 20/3/927

Quinta-feira 24

A amaragem dos nossos aviadores no Natal e Recife, foi aqui ruidosamente festejada.

A chegada foi anunciada por uma girândola de foguetes atirados do Correio, à qual se seguiram, não só mais foguetes que de outras partes atiravam, mas também os apitos das fábricas, sirenes dos automóveis, repique de sinos, etc.

Os automóveis de praça, ostentando bandeiras portuguesas e brasileiras, formaram um cortejo que andou percorrendo as ruas mais importantes da cidade.

Todos os edificios públicos e bem assim muitas casas particulares hastearam a bandeira nacional. Os consulados hastearam a bandeira dos respectivos paizes.

À noite as fachadas dos edifícios públicos e muitas dos particulares apresentavam-se profusamente iluminadas.

A banda de música de Caçadores 10 andou percorrendo as ruas da cidade executando o hino nacional.

- No dia 3 do próximo mês de Abril realizar-se-á, promovido pela frequesia da Sé Nova, uma manifestação ao Brasil, pelo bom acolhimento que este paíz dispensou e está dispensando ainda aos nossos gloriosos aviadores. Do programa faz parte um cortejo que irá saudar, em nome da cidade, o consul do Brasil, sr. dr. Carlos Dias.

M.G.

Beira-Mar, 27/3/927

Quinta-feira, 31

(retardada na redacção)

Com estas últimas chuvas, o Mondego, não lhe bastando já o seu largo leito, começou a inundar os campos marginais e alguns bairros mais baixos de Santa Clara.

Não que tem estado um tempinho, louvado seja Deus!

Houve dias em que a chuva não nos deixou em todo o santo dia.

Vá lá que há dois dias a esta parte, tem estado verdadeiramente primaveril

O calôr faz-se sentir com tal intensidade que já apetece deixar o colete, cuidadosamente pendurado em casa.

As cervejarias começaram já a sua faina estival, e com farta freguesia, de vender cervejas e refrescos gelados.

E não haja dúvida que já são de apetecer.

- Deve seguir no dia 8 para dar espectáculos em Braga e Porto a Tuna Académica desta cidade.

- No p. domingo, dia 3, realiza-se um desafio de “foot-ball” entre o Sporting Club de Portugal, de Lisboa e a Associação Académica para a disputa do campeonato de Portugal.

- Encontra-se no Hospital da Universidade, onde foi operado duma hérnia o nosso patrício José Malaquias (o Joia). Que seja breve o restabelecimento são os nossos votos.

- No Hospital Militar estão internados alguns nossos patrícios que ali deram baixa em virtude das últimas inspecções.

M.G.

Beira-Mar, 10/4/927

QUINTA-FEIRA, 28

Depois de um consolador descanso de algumas semanas, descanso de que o meu espírito já necessitava, volto hoje, meus caros e pacientes leitores, a importuná-los com as minhas desenxaividas crónicas semanais.

XXX

Coimbra, abandonada por algumas semanas, começa já a repovoar-se de capas negras que, embora pareça contraste, alegram sobremaneira as velhas e tortuosas ruas.

A “Cabra”, após um merecido repouso, continua a avisar o tardio “caloiro”de que são horas de recolher a penates, para não correr o risco de ser “cortado”por alguma “troupe” traiçoeira, cuidadosamente embuçada por detrz de uma esquina.

O Mondego, como que alheado da vida, lá vai procurando, num extertor moribundo, os mais baixos pontos do leito, para mais depressa correr ao oceano, que sem misericórdia o há-de tragar aré à última gota.

Já não é o Mondego que, não se contentando já com o leito próprio, inundava as margens, que, como o próprio nome indica, caíam da asneira de lhe ficar próximas.

O rio, que for a caudaloso no inverno está transformado num conjunto de estreitos braços, que preguiçosamente ziguezagueando vão direitos à foz.

O Choupal deixou de ser aquele aglomerado de árvores nuas, braços erguidos ao Céu como que a implorar a Deus protecção contra o frio que os torturava, para ser o vetusto Choupal primaveril, coberto já de verde folhagem, a cuja sombra benéfica se acolhem os estudantes que procuram no silêncio do bosque, a melhor disposição para o estudo.

Por fim as lavadeiras já não nos demoram a roupa, pretextando que as águas barrentas do rio a não deixam lavar ou que as chuvas torrenciais, ou mesmo a aborrecida “murrinha”a não deixam secar.

M.G.

Beira Mar 1/5/1927

QUINTA-FEIRA, 5

(Retardada na redacção)

Chegou o Maio das rosas e das novênas, o mês tortura das flores e desafortunados caloiros. Passam as tricanas e as senhoritas para as novenas do seminário e da Sé e não há mais que contentarmo-nos a olhá-las de longe, porque os doutores estão feras, e se nós saímos à rua lá se vai o cabelo num balão.

Era bem certa frase de Herculano se a aplicássemos a esta nossa vida de caloiro: “isto até dá vontade de morrer,”

Ao toque da “Cabra” mal a fatídica iarenga soletra a primeira badalada, ecoa nas velhas e tortuosas ruas desta velha Coimbra o grito terrífico de: “lá vai um, lá vai um!” e logo se escuta o sapatear na calçada do caloiro fugitivo. Livra.

XXX

Vão acelerados os preparativos para a estrondosa “Queima das Fitas”que este ano promete exceder todo o tradicional e miraculoso encanto dos anos anteriores.

70 grosas de foguetes, 7 zabumbas de gaitas de foles e 25 carros!

Vinte e sete de Maio! Vinte e sete de Maio!

Ó data gloriosa em que nós, perdendo nLargo da Feira, ao fumo que se eleva os desgastados distintivos de caloiro penetramos penetramos na mui arriscada e duvidosa categoria canina de semi.

XXX

Lavra grande rivalidade nos Cursos dos doutores quartanistas que vão esmerar-se uma vez mais, a ver a qual Faculdade compete a honra de ter sido a que melhor se apresentou à festa.

A vetusta e heráldica Faculdade de Medicina, aquela que sempre manda, irá mais uma vez ser a melhor de todas!

Ao que consta, o livro destes doutores vai apresentar-se magnífico. Abre-o uma “Visão de Oferenda”assinada pelo nosso ilustre patrício e poeta Vaz Craveiro, garantia segura do seu sucesso, Fecha-o ainda o mesmo doutor com o “Novêlo do Tempo” magnífica e rica composição de despedida, que já anda na boca dos doutores, que foram caricaturados expressamente pelo lapis mágico de Amarelhe.

No quinto ano médico há a peça escrita por Celestino Gomes, outro nome que marca originalidade e bom exito.

E assim este ano, a nossa terra mostra-se bem conhecida através destes dois nomes que a nobilitam.

Desde já promete aos leitores da “Beira Mar”, que oportunamente lerão algumas transcrições destes trabalhos que de longe fazem uma magnífica impressão ajuizadora do quenão será capaz a mocidade ilhavense.

XXX

Lá toca a fatídica “Cabra”. Dirigindo-se para as novenas, passam na rua duas tricaninhas de chaile que me fazem lembrar as lindas tricanas do nosso Ílhavo.

Ao o pobre do caloiro que não vai ver a novena ao Seminário e à Sé!

Vinte e sete, vinte e sete de Maio que tantos tardas a vir!

- Lá vai um! gritam lá for a e instintivamente, cá dentro leva-se a mão à Guedelha, virgem de tesoura, bem sabemos porquê…

- Na terça-feira passada estiveram cá os nossos amigos professor Duarte de Pinho e rev. Angelo Ramalheira. No mesmo dia efectuou-se uma grande manifestação ao consul brasileiro, comemorando a data do descobrimento do Brasil. O consul, Dr. Carlos Dias, agradeceu da varanda, num belo discurso.

- Ontem, quarta-feira, vi cá o nosso patrício Candido da Rocha, que veio consultar um especialista de olhos.

- Também hoje estiveram cá com o mesmo fim os srs. Jaime A. Catarino, Marcos A. Catarino e um filhinho deste.

M.G.

Beira Mar 15/5/927

QUINTA-FEIRA, 19

É só mais uma semana. Tenhamos paciência. Que diabo! Agora por uns dias não vamos nós ficar sem o que durante todo o ano guardamos com tanta cautela – o nosso cabelo.

É só mais uma semana. Semana terrível, é certo. Até aqui ainda algum doutor mais condescendente nos protegia levando-nos a gosar uns belos momentos de liberdade, momentos que só nós sabemos apreciar bem, mas nesta semana, última, nem já isso nos é permitido. Acabaram-se as protecções.

Com que desgosto nos recolhemos a penates à hora em que a Baixa e muito principalmente o novo jardim da Insua é ponto de reunião dos mais belos exemplares do sexo fragil, o sexo dos cabelos à Garçone e das pernas ao leo.

Vinte e sete, vinte e sete de Maio, vem, vem libertar-nos desta cruel prisão com que o nosso espírito se não coaduna!

E os dias, os malvados, que passam tão lentamente, como que a saborear com delícia o nosso sofrimento!…

XXX

Os doutores quartanistas andam num sino!

Os preparativos para a estrondosa “Queima das Fitas” nem sequer os deixam respirar.

Não teem um momento de descanso. São as provas que lhes mandam da tipografia para emendar; são as flores de papel, de que gentis demoiselles se encarregaram, que às braçadas lhes entram pelo quarto; são os caloiros que solicitam um lugar no cortejo com o fim de fugirem às “latadas” e paparém à borla um suculento e opiparo jantar; são as piadas que em cartazes hão-de ostentar nos carros, são em fim estas mil e uma coisinhas que parecendo à primeira vista não terem importância, lhes roubam o tempo todo.

É vê-los na “Central” ou na “Brasileira” discutindo, fazendo projectos, escolhendo piadas…

É vê-los, pelas ruas da Baixa a laurear o grêlo que em breve deixarão pelas ansiadas fitas largas…

M.G.

Beira Mar 22/5/927

QUINTA-FEIRA, 25

Mais dois dias e acabar-se-ão, por este ano, os caloiros em Coimbra. Vá lá que já não é sem tempo!

Oito meses sob o jugo terrível dos doutores, custa!

Mas a hora da Liberdade, por nós tão desejada, muito em breve soará!

Nestes últimos dias od doutores, aproveitando-se do facto de não haver já protecções, teem-se tornado feras.

O faro, sentido muito desenvolvido nos semis, alastrou-se agora a todas as outras categorias.

É vê-los passar à noite, espreitando a todas as esquinas, farejando os mais obscuros recantos, à cata de algum caloiro mais atrevido, onde possam saciar os seus ferozes instintos caloirófobos, passe o termo.

As praxes tradicionais não são obedecidas em todas as suas clausulas.

Chegaram já ao ponto de fazerem troupes em dias de festa académica, como aconteceu ontem, como acontece hoje e como acontecerá nos dois próximos dias em que há récitas académicas de despedida!

Enfim, fazem o que querem!

O que vale é ser por pouco tempo!

XXX

Com a entrada solene dos caloiros, convenientemente armados na cidade, guiados por veteranos montados em fogosos corceis, começarão amanhã os tradicionais e imponentes festejos da “Queima das Fitas” de que na próxima crónica darei desenvolvido relato.

M.G.

Beira Mar 29/5/927

QUINTA-FEIRA 3

Foram, como previamos, retumbantes os festejos da “Queima das Fitas”.

Na quinta-feira, 26, acordou Coimbra sobressaltada com o rufar incessante e barulhento dos “Zés-Pereiras” que percorreram na sua ruidosa faina as ruas de Coimbra.

As “repúblicas” apresentaram-se logo de manhã ornamentadas a capricho com toda a espécie de objectos caseiros, trastes velhos, cadeiras sem pernas nem fundos, botas sem solas, candeeiros partidos, enfim toda a indumentária do depenado estudante de Coimbra.

À tarde, pelas 7 horas, teve lugar no Rocio de Sta. Clara a espera dos caloiros, que, com os respectivos apêndices na testa, mostravam a alegria que os assaltava ao lembrarem-se que se tratava da sua emancipação.

Os doutores veteranos esperavam-nos montados em belos cavalos “pur sang” . De Santa-Clara dirigiram-se os aspirantes a semis, através da cidade, guardados à vista pelos veteranos e semis ( não fosse tresmalhar-se algum!) al Largo da Feira, onde se realizou a tradicional tourada que despertou na selecta assistência, fartas e sonoras gargalhadas.

Sexta-feira de manhã. Os malditos zabumbas não deixam que um parceiro gose com delícia o sono matinal – o melhor dos sonos.

Os quartanistas passam aos grupos em direcção às alquilarias e garages onde os carros os esperam para serem vistosa e artisticamente engalanados.

Aí por volta das 13 horas começam os passeios, janelas e varandas (donde pendiam ricas colgaduras) a povoar-se de curiosos e muito principalmente de curiosas, para verem a formação e desfile do fenomenal cortejo.

Anunciado por uma girandola de foguetes sai do Pateo da Universidade, pela Porta Férrea, o vistoso cortejo. Abre-o um espaventoso cartaz conduzido por um caloiro, montado num gerico arreado de finas colchas rasgadas, o qual enfiava os pés nos dois vasos nocturnos de barro que substituiam com vantagem os usados estribos. O cartaz, na sua piada feliz, dizia: Este cortejo foi visado pela comissão de censura.

Uma banda de música executou com o esmero e cuidado próprio das grandes ocasiões, o seu selecto reportório. Veem a seguir os carros pela ordem seguinte: À frente os quartanistas de Direito, os de Letras, “Faculdade que apenas renasceu p’ra chatear os bichos do liceu”, Sciências Naturais, Matemática “…gente abstrata que não tarda no manicómio Sena ou no Bombarda”, Farmácia e por fim os dos quartanistas da hieraldica e famosa Faculdade de Medicina que, por grande honra de que só ela é merecedora, fecha o cortejo, que, como os seus sonetos, tinha de fechar com chave de oiro, como doiradas são as fitas, as rosas que engalanam os carros, como doirada é a alegria de muitos que num sorriso às damas acenam as pastas em adeus…

Intercalados no cortejo vão alguns carros com felizes piadas. Uma interessante charge aos lentes de Medicina, uma alegre paródia à música do Troviscal, e uma engraçadíssima composição da Semana da Criança.

E não havia ninguém que se não risse ao ver na camionete engalanada, os caloiros, alguns deles já velhos, com babetes, arcos e robes à laia de meninos das escolas. Se até houve um que cortou o cabelo à Joãozinho e rapou a penugem dos sovacos…

Os carros dos quartanistas que tinham por trintanário um caloiro que parodiava as últimas modas e os casos de mais sensação dos últimos tempos, estavam belamente engalanados com flores de papel das cores das respectivas faculdades e apresentavam em vistosos cartazes, piadas alusivas a motivos universitários.

Os lentes, das janelas, assestavam os vidros dos binóculos e que formigueiro não sentiriam ao verem-se caricaturados e ridicularizados nas suas personalidades catedráticas…

O cortejo dirigiu-se ao Largo da Feira onde se realizou a cerimónia da queima do grêlo e da entrega das fitas largas aos novos quintanistas.

O grêlo era queimado numa pira (vaso de noite) montado num pedestal ornado de giestas, heras e louro… simbolo do belo Baco, porque o vinho – rapazes – “o vinho é sangue, o vinho retempera, conduz-nos ao Azul nas asas da Quimera”.

E que azul nós ficamos quando provamos generosa dádiva dos goles de 1813!…

Após a cerimónia do baptismo reorganizou-se o cortejo que segue pelo Largo do Castelo, Praça da República, Sá da bandeira, onde a multidão se acotovela ladeando em toda a extensão do percurso os 50 carros ornamentados.

Mas onde a festa atingiu o auge foi nas ruas Visconde da Luz e Ferreira Borges donde cujas janelas e varandas pendiam ricas colgaduras.

O cortejo atravessa estas ruas sob nuvens de flores que os milhares de forasteiros lhe atiravam com entusiasmo.

À chegada à Portagem o cortejo dispersa-se.

À noite efectuou-se a costumada latada que finalizou os festejos.

E assim se passaram num ar 5 ou 6 horas dessa linda tarde de Maio, na tradicionalíssima festa da “Queima das Fitas” donde damos uma pálida ideia, porque o tempo é pouco e o espaço é reduzido…

M.G.

Beira Mar, 6/6/927

QUINTA-FEIRA, 7

Ontem, quarta-feira, na rua Dr. João Jacinto, no. 3, desta cidade desenrolou-se um drama de que foram vítimas António Abrantes, casado, de Santa Clara, que exercia o ofício de cantoneiro e Eduarda dos Prazeres, de 18 anos que estava servindo em casa do sr. Inácio Cunha e que era natural de Penalva do Castelo. Relatemos o facto.

Na casa do sr. Inácio Cunha servia há tempos a Eduarda Prazeres que por ser muityo bonita atraia os olhares concupiscentes do António, que era assiduo na referida casa.

Consta que a Eduarda a principio aceitava os galanteios do António, mas quando soube que ele era casado deixou de lhe “ligar”.

Ontem pelas 7 horas da manhã, quando a Eduarda se encontrava na cozinha correndo a ferro a roupa, entra o António que novamente lhe dirige galanteios a que ela nào dava importância. O António, vendo que ela não acedia aos seus lúbricos desejos, pega numa pistola que tinha comprado no dia anterior e dispara-lhe nas costas dois tiros que lhe deram morte quasi que instantaneamente; em seguida, quando a viu por terra, banhada em sangue, vira para si a pistola e dispara 4 tiros, dois no peito e dois na cabeça.

Aos gritos da gente da casa e da vizinhança acudiram os socorros que levaram Eduarda para o Necrotério por já estar morta e o António para o hospital, onde veio a morrer pouco depois.

- Tenho visto por Coimbra, onde vem tratar dos seus negócios o nosso conterrâneo Alcides Bolais Mónica.

- Fez exame da 7a. classe de Letras o nosso amigo António Trindade Salgueiro que obteve a classificação de 15 valores.

- Também fez acto de Tecnica Operatória o nosso amigo Dr. Vaz Craveiro que obteve também uma alta classificação. Aos nossos amigos os nossos parabéns.

M.G.

QUARTA FEIRA, 23

FESTA ACADÉMICA

Patrocinados pelo semanário académico “A Mocidade” superiormente dirigido pelo quintanista de Medicina, dr. Matos Braz, realizam-se amanhã e depois grandiosos festejos comemorativos da Tomada do Instituto, hoje sede da Associação Académica, data célebre no meio académico.

Amanhã tocará durante todo o dia uma banda de música que percorrerá as principais artérias da cidade.

Também se farão ouvir os tradicionais Zés P’reiras, que atroarão os ares com o seu delicado e mavioso reportório.

À noite organizar-se-á uma esfusiante e estrondosa marcha aux flambeaux em que tomam parte armados de vistosas luminárias, todos os caloiros e bichos que, por decreto do Excelso Conselho dos Veteranos, terão folga durante os dias dos festejos.

O cortejo, abrilhantado pela banda de música e pelos gaiteiros, irá esperar à Estação Nova os audaciosos assaltantes do Instituto, que serão acompanhados à Associação Académica, onde lhes será servida uma lauta ceia.

Foi decretado feriado geral para sexta-feira.

À noite, para complemento dos grandiosos festejos, haverá uma récita de gala dedicada aos assaltantes do Instituto, subindo à cena uma engraçada revista em um prólogo e dois actos, original do estudante de Medicina Candido Rodrigues, intitulada “O Diário de Coimbra” com música do estudante de Direito Raposo Marques e ensaiada pelo veterano de Direito dr. Castanheira Lobo.

Coimbra, 23 de Novembro

MG

Beira-Mar, 27/11/927

QUARTA-FEIRA, 30

Decorreram com extraordinário brilhantismo os festejos académicos comemorativos da Tomada do Instituto.

Na marcha aux flambeaux incorporaram-se centenas de bichos e caloiros munidos com luminárias, o que dava um aspecto feérico ao cortejo.

Os ares foram atroados pelo troar constante dos bombos e tambores dos Zés P’reiras e pelos calorosos vivas da malta, vitoriando os conjurados de 1920.

Na Associação Académica discursaram o presidente da Associação, alguns académicos e alguns dos conjurados.

Na sexta-feira realizou-se a recita no fim da qual foi servida aos heroicos assaltantes do Instituto uma saborosa ceia na A. Académica.

xXx

Amanhã, 1o. de Dezembro, realizar-se-á, promovido pela Associação Académica, uma romagem patriótica ao túmulo de Afonso Henriques, para a qual foram já convidadas todas as agremiações locais, que deverão comparecer no Páteo da Universidade, donde sairá o cortejo.

Na romagem tomarão parte todos os bedeis, archeiros e lanceiros da Universidade com os seus uniformes de gala.

Os lentes apresentar-se-ão de borla e capelo.

A Associação Académica oficiou ao governo para que seja dada uma salva de 21 tiros à hora da romagem.

À noite, a pedido da Academia, apresentar-se-ão as casas iluminadas.

M.G.

QUARTA-FEIRA, 18

O tempo tem sido de pleno inverno. A chuva que nos tinha deixado (sem saudades) por alguns dias cai agora quasi que ininterruptamente. Transforma as ruas da alta num verdadeiro ring de patinagem, tão escorregadias elas estão.

Li há dias num diário da capital que um sábio inglês predssera para 1928 um tempo bom, tempo de sol.

Se ele continua como começou, bem pode o sábio limpar as mãos à parede mais as suas predicções.

E temos um exemplo bem frisante na própria Inglaterra onde as inundações têm feito inúmeras vítimas e causado bastantes estragos.

No Brasil, segundo os jornais, também foi inundada uma cidade, deixando sem abrigo os seus 5000 habitantes.

Em Marrocos os temporais têm feito o diabo.

De toda a parte se queixam da invernia e no entanto lá na velha Albion aparece um sábio que, semelhante a tantas bruxas portuguesas, nos quere meter na cabeça que o ano de 1928 vai ser de quente e lindo sol.

Se isto assim continuar…

- Na passada segunda feira realizou-se uma sessão de homenagem ao seu director, sr. dr. Luis Carrisso. Presidiu o sr. dr. Fezas Vital, reitor da Universidade, que num belo discurso, enalteceu as qualidades do distinto homenageado.

Falaram em seguida o sr. dr. Egas Pinto Basto, o estudante de direito Victorino Nemésio e por ultimo o sr. dr. Aurélio Quintanhilha que leu uma mensagem em nome do pessoal do Instituto.

- Esteve há dias em Coimbra uma companhia cinematográfica francesa que anda filmando um drama – Capas Negras – e que aqui veio filmar algumas cenas passadas entre estudantes.

Já se retiraram.

M.G.

Beira-Mar, 22/1/928

QUARTA-FEIRA, 1

ENTREPOSTO DE GAIA

Ontem, a convite de alguns académicos da região viticultora do Alto Douro, reuniram-se na sala nobre da Associação Académica, os estudantes da Beira, Douro e Traz-os-Montes, afim de assentarem na manifestação a fazer aos lavradores durienses que a Lisboa vão agradecer ao Governo a conservação do Entreposto de Gaia.

Na reunião compareceram alguns estudantes que protestaram contra essa manifestação, alegando que a conversão do Entreposto punha em cheque os vinhos das regiões da Bairrada, Dão e Torres, que não podem d’hora ávante ser exportados pelo Porto, acarretando a sua exportação por Lisboa grandes despezas que irão influir nos preços.

Bom seria que o Governo, atendendo também as reclamações destas ultimas regiões estudasse a fundo esta momentosa questão e a resolvesse duma forma plausível que defendendo os interesses dos lavradores durienses não lesasse os das outras regiões que também desejam, como é natural, tirar recompensas do seu árduo trabalho no tratamento e conservação das suas vinhas.

- Faleceu na passada sexta-feira o sr. dr. Francisco H. da Costa Henriques que há já tempos se encontrava num sanatório da Guarda.

A sua morte foi muito sentida por todos os estudantes da Faculdade de Sciências onde ele era assistente.

O seu funeral foi muito concorrido.

- Foram superiormente proibidas as conferências no Centro Académico Republicano e que eram feitas pelos srs. Bourbon e Meneses e Mário de Castro

Lamentamos o facto, tanto mais que sendo a forma do governo uma Republica, não achamos razões plausíveis para a sua proibição. Foi também proibida no mesmo Centro uma sessão solene comemorativa da gloriosa data de 31 de Janeiro.

M.G.

Beira-Mar, 5/2/928

QUARTA-FEIRA, 8

Na quinta-feira, dia 2, passou aqui o comboio especial dos viticultores do Douro que foram a Lisboa agradecer ao Governo a conservação do Entreposto de Gaia.

Às trêze horas, hora provável da chegada do comboio, já a gare da Estação Velha se encontrava quási que repleta de estudantes com o intuito de manifestarem aos lavradores o seu apoio, uns; pela esperança duma viagem grátis a Lisboa, outros; e ainda por mera curiosidade, alguns.

A manifestação prometia ser explendida pois era grande o entusiasmo; porem o chefe da estação, não sei com que intuito, houve por bem fazer-nos a agradável surpresa de nos mimosear com algumas dezenas de polícias que, muito cortezmente, nos convidaram a sair da gare.

Por mais que protestássemos, os … polícias não se comoveram.

Após várias demarches conseguiu-se que a Comissão promotora e os representantes de jornais pudessem andar na gare.

É preciso notar que o chefe da estação não permitiu a venda de bilhetes na gare.

São 13 horas e 56. Ao longe, na curva, já se divisa o comboio.

À sua chegada o entusiasmo é enorme!

Os lavradores descem do comboio e, aos vivas à Academia que esta corresponde com vivas ao Douro, distribuem pela malta algumas garrafas do “Porto”.

O dr. Pedro Campilho, quintanista de Direito, profere um discurso de saudação.

A comissão do Douro distribue perto de 50 bilhetes pelos estudantes que queiram acompanhar os manifestantes a Lisboa.

Apesar de munidos de bilhete, ficaram em Coimbra alguns estudantes, pelo motivo do chefe, acolitado pelos polícias, os não ter deixado entrar na gare!

Às duas horas o comboio põe-se em marcha.

A viagem foi magnífica, sendo os lavradores muito atenciosos com os estudantes que tiveram a dita de fugirem ao cordão da polícia.

A chegada a Lisboa foi às 6 horas e meia. A gare do Rossio estava repleta de beirões, transmontanos e durienses, residentes em Lisboa, que irromperam em delirantes vivas que eram retribuidos pelos manifestantes.

Como alguns estudantes tivessem viajado sem bilhete a comissão dos Viticultores prontificou-se a pagar a importancia dos bilhetes.

Na sextafeira ao meio dia já os lavradores se encontravam reunidos no Eden Teatro, donde às 12 e 30 saiu o cortejo que se dirigiu ao Palácio do Congresso.

O sr. Presidente da República vem à varanda, tendo sido muito ovacionado.

Os manifestantes são em seguida recebidos na sala dos Passos Perdidos, não cessando os vivas ao Entreposto.

O sr. ministro da Agricultura pede silencio e é dada a palavra ap presidente da comissão duriense, sr. dr. Antão de Carvalho que, num belo discurso, explica a razão de ser do Entreposto e agradece ao Governo a sua conservação.

O sr. ministro da Agricultura promete que o Entreposto será conservado e termina aconselhando calma.

O Chefe do Estado agradece a manifestação e igualmente promete a conservação do Entreposto.

O cortejo dirige-se em seguida a casa do dr. João Franco, tendo sido por este recebida a comissão duriense.

O dr. João Franco vem à varanda agradecer aos durienses a manifestação de simpatia.

Os durienses retiram de Lisboa no domingo pelas 0 horas e 30 tendo tido na Estação do Rossio e na de Coimbra, principalmente nesta ultima, uma comovente despedida.

- Os estudantes que, munidos de bilhete, não puderam ir a Lisboa, foram hoje, 8, à Estação Velha protestar contra o facto, tendo deixado a sua reclamação no respectivo livro.

É de esperar que a Companhia proceda com justiça, castigando os culpados.

M.G.

TERÇA-FEIRA, 27

Na passada sexta-feira chegaram a Coimbra a Tuna e o Orfeão académicos do Porto que vieram dar um sarau no Teatro Avenida.

Na Estação Nova eram os académicos portuenses esperados pelos seus colegas de Coimbra que lhes fizeram uma calorosa recepção, um tanto prejudicada pelo tempo que nestes ultimos dias tem sido de rigoroso inverno.

Na recepção fizeram-se representar com os respectivos estandartes a Associação Académica, a Tuna e o Orfeão conimbricenses e bem assim muitas das “repúblicas”com seus interessantes estandartes.

Lembra-nos ter visto os seguintes:

“Real República Ribatejana”, “Republica do Sete Estrêlo”, “Soviet da Matemática”, “Republica Transmontana”, “Republica Tomar n. 2” etc, etc.

À chegada do comboio o entusiasmo foi indescritivel. Os “vivas”e os foguetes atroavam os ares enquanto uma filarmónica tocava o hino académico, ou por outra, a sua caricatura.

Formando o cortejo foram os estudantes à Camara Municipal onde foram dadas as boas vindas pelo seu presidente.

O cortejo dirigiu-se em seguida à Universidade onde os estudantes foram recebidos pelo reitor, sr. dr. Fezas Vital.

A recepção oficial na Associação Académica foi imponente.

Discursaram vários rapazes que fizeram votos pela aproximação das duas academias.

A redacção do orgão da academia a “Mocidade” ofereceu à direcção do Orfeão e Tuna do Porto um belo copo de água.

As direcções da Tuna e Orfeão do Porto e de Coimbra reuniram-se num jantar que decorreu no meio da maior camaradagem.

À noite houve sarau no Teatro Avenida tendo sido muito aplaudidos todos os números da Tuna e Orfeão e bem assim os fados e guitarradas.

Fez a apresentação da Tuna e Orfeão portuenses o presidente do Orfeão de Coimbra, dr. Matos Braz.

No fim do espectáculo dirigiram-se os estudantes à Associação Académica onde um “Jazz-Band” tocou até às 3 horas da madrugada.

A Tuna e o Orfeão académicos do Porto retiraram-se no sábado tendo tido na Estação uma afectuosa despedida por parte da academia coimbrã.

Na excursão veio também a pequena Isaura protegida do IV ano médico do Porto.

M.G.

Beira-Mar, 5/4/928