COIMBRA
Hoje vão uns versos sobre Coimbra, cidade que muito o marcou. Foram feitos em 1954, para qualquer acontecimento da Associação dos Antigos Estudantes de Coimbra, em Lourenço Marques, mas referem-se a lugares e pessoas dos seus tempos de estudante e, portanto, não parece descabido colocá-los aqui.
COIMBRA
Coimbra, terra jardim,
Nas tuas ruas se encobre
A sombra de António Nobre,
A sombra de Bernardim.
Coimbra do Pad´Zé!
Coimbra do Carminé!
Coimbra! Foram tão pródigos
Os Deuses para contigo!
Coimbra de D.Dinis
Com seus cantares de amigo;
Do “Pirata Joaquim”
Com os seus famosos “códigos”,
E do “Osso” e do “Dim-Dim”...
Que figuras tão gentis
Criadas p´ra teu adorno!
Que saudade tão amarga
Eu sinto no coração
Do Roxo, da Rua Larga,
Do Bento, da São João,
E da célebre pensão
“Marquinhas do Leite Morno”.
Ai Coimbra dos Choupais,
Dos Choupais das serenatas
E de muita coisa mais
Que não digo e se adivinha
E findavam em festatas
Duma beleza profunda,
Afogadas na pinguinha
Da tasca da “Cova Funda”
Do famoso “Carequinha”.
Coimbra da boa gente,
Com tão belo coração,
Desde o Favas ao Paixão,
Que de forma comovente
Nos livravam dos apuros
Com tão “pequeninos” juros.
Coimbra da simpatia
Do Neves da Livraria
Que com mil salamaleques
Conosco a todo o momento,
Trocava os vales e cheques
Com lucros de dois por cento.
Coimbra, terra poeta,
Coimbra do “Caganeta”
Que a gente agora recorda
Dedilhando a sua trova
Nos instrumentos de corda
Do sino grande e sineta
Do carrilhão da Sé Nova.
Coimbra do “Calmeirão”
Que marcava as contradanças
Nas “fogueiras” e festanças
Da noite de São João,
Com um jeito tão notório,
Com maneiras tão “gentis”
A frases tão “subtis”
Do seu vasto reportório.
Coimbra a bela cidade
De paisagens tão bucólicas
Que tantas vezes cantámos.
Coimbra, terra das cólicas
Nos “actos” da Faculdade,
Onde o “Abólio”, o bedel,
Com um sorriso de mel
Dizia que reprovámos.
Coimbra, cidade –prenda
Dentro em teu seio, ao abrigo
Da velha Univercidade
Quem há que te não entenda?
Coimbra, terra de lenda,
Nós ´stamos hoje contigo
Em espírito, em saudade.
Lourenço Marques, Maio de 1954
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