de Ílhavo a Oeiras passando por Moçambique

um blog de Manuel Machado da Graça, onde se vão publicando textos e gravuras que ele nos deixou, fotos e outras recordações.

Nome:
Localização: Maputo, Mozambique

sábado, agosto 25, 2007

COIMBRA

Depois de um longo interregno aqui voltamos para recomeçar a publicação do que MMG nos deixou.
Hoje vão uns versos sobre Coimbra, cidade que muito o marcou. Foram feitos em 1954, para qualquer acontecimento da Associação dos Antigos Estudantes de Coimbra, em Lourenço Marques, mas referem-se a lugares e pessoas dos seus tempos de estudante e, portanto, não parece descabido colocá-los aqui.

COIMBRA

Coimbra, terra jardim,

Nas tuas ruas se encobre

A sombra de António Nobre,

A sombra de Bernardim.

Coimbra do Pad´Zé!

Coimbra do Carminé!

Coimbra! Foram tão pródigos

Os Deuses para contigo!

Coimbra de D.Dinis

Com seus cantares de amigo;

Do “Pirata Joaquim”

Com os seus famosos “códigos”,

E do “Osso” e do “Dim-Dim”...

Que figuras tão gentis

Criadas p´ra teu adorno!

Que saudade tão amarga

Eu sinto no coração

Do Roxo, da Rua Larga,

Do Bento, da São João,

E da célebre pensão

“Marquinhas do Leite Morno”.

Ai Coimbra dos Choupais,

Dos Choupais das serenatas

E de muita coisa mais

Que não digo e se adivinha

E findavam em festatas

Duma beleza profunda,

Afogadas na pinguinha

Da tasca da “Cova Funda”

Do famoso “Carequinha”.

Coimbra da boa gente,

Com tão belo coração,

Desde o Favas ao Paixão,

Que de forma comovente

Nos livravam dos apuros

Com tão “pequeninos” juros.

Coimbra da simpatia

Do Neves da Livraria

Que com mil salamaleques

Conosco a todo o momento,

Trocava os vales e cheques

Com lucros de dois por cento.

Coimbra, terra poeta,

Coimbra do “Caganeta”

Que a gente agora recorda

Dedilhando a sua trova

Nos instrumentos de corda

Do sino grande e sineta

Do carrilhão da Sé Nova.

Coimbra do “Calmeirão”

Que marcava as contradanças

Nas “fogueiras” e festanças

Da noite de São João,

Com um jeito tão notório,

Com maneiras tão “gentis”

A frases tão “subtis”

Do seu vasto reportório.

Coimbra a bela cidade

De paisagens tão bucólicas

Que tantas vezes cantámos.

Coimbra, terra das cólicas

Nos “actos” da Faculdade,

Onde o “Abólio”, o bedel,

Com um sorriso de mel

Dizia que reprovámos.

Coimbra, cidade –prenda

Dentro em teu seio, ao abrigo

Da velha Univercidade

Quem há que te não entenda?

Coimbra, terra de lenda,

Nós ´stamos hoje contigo

Em espírito, em saudade.

Lourenço Marques, Maio de 1954