de Ílhavo a Oeiras passando por Moçambique

um blog de Manuel Machado da Graça, onde se vão publicando textos e gravuras que ele nos deixou, fotos e outras recordações.

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Localização: Maputo, Mozambique

segunda-feira, setembro 11, 2006

Gazetilhas

Até onde percebo, havia uma grande disputa política entre o Beira Mar e o outro jornal local, o Ílhavense.
As três gazetlhas que se seguem reflectem essa disputa:


GAZETILHA

Isto agora vai num sino;

‘Stão em vigor as mudanças.

Já tudo bebe do fino,

Mas eu é que não atino

Toda

s estas contradanças.

De há tempos a esta parte

Fazem mudança tamanha;

E como nada há qu’os farte,

Inda hão-de mudar dest’arte

O concelho p’ra Gafanha.

Isto assim já não vai mal,

Vai mesmo bem, rico filho.

Na redacção do jornal,

Nosso colega local,

Vai haver grande sarilho.

Que riso! Que piadão!

Não percebo a trapalhada.

Já tiraram a prisão

P’ra pôr a Administração

Nessa redacção safada.

Que mais irá lá parar?

(Sem muda não fica nunca).

Já a ouvi nomear,

E não é de admirar,

Pelo nome de espelunca (!)

Quem me não acreditar,

Quem nisto não tiver fé,

Ou julgue qu’isto é brincar

Faz favor de perguntar

A um cabo da G.N.R.

PIRO LITO

Beira-Mar, 20/2/927

GAZETILHA

Tal e qual casta donzela

Envolvida em alva túnica,

O Ilhavense – a masela

Da nossa terra tão bela –

Stá com medo da “Frente Única”

E a seu respeito o vendido

Faz por lá tanto aransel,

Qu’eu cá ‘stou convencido,

Qu’aquele enorme alarido

É para encher o papel

Diz mal de todos à farta.

Não se lembra o Zé Maria

Daquela célebre carta

Do patrão que – Santa Marta –

Nem o diabo escrevia.

Dessa cartinha afamada

Que lhe mandou o patrão,

(De tudo o alma danada)

Não quero dizer mais nada,

Pois m’estala o coração.

E mesmo não é preciso

Qu’eu o venha aqui dizer,

Pois de um modo mui conciso

Toda a pessoa de siso

O deverá já saber.

Mas o homem, coitadinho,

Não se lembra dela já;

Ou talvez o patrãozinho

Lhe faça algum favorzinho

Qu’agora não vem p’ra cá.

Hei-de ver o patrãozinho

(E isso já ele o fez)

Abandonar o Zezinho,

Deixá-lo a ele sozinho,

E dar-lhe tres pontapés.

PIRO LITO

Beira-Mar, 3/4/927

GAZETILHA

o Modesto, bom rapaz

Mesmo mui bom rapazinho

E que de tudo é capaz,

Tantas coisas diz e faz

Que parece estar tolinho.

Por não ter mais que dizer

Meteu-se agora co’a Frente.

Põe-se então a escrever

A seu respeito o que quere

E que faz rir toda a gente.

Não qu’é mesmo engraçado

É mesmo muito int’ressante

O que diz esse safado;

Embora seja mandado

Por outro grande tratante.

Co’aquela declaração

Do pseudo-chefe da Frente

Ficou o Zé casmurrão;

E sai-se com esta então

Que já fez rir toda a gente.

Mas rir muito e a bom rir.

- Ö chefe poz-se a cavar”.

- Como pôde ele fugir

E da chefia sair

Se nunca chegou a entrar?

Não é decerto o Zézinho

Que faz aquele alarido,

Mas somente o patrãozinho,

Que com um certo geitinho

Faz tudo andar divertido.

Arranja outro capitão

Já qu’aquele ser não quis.

Combina lá co’patrão

Que por ter bom coração

Em tudo mete o nariz!

PIRO LITO

Beira-Mar 10/4/927