Gazetilhas
As três gazetlhas que se seguem reflectem essa disputa:
GAZETILHA
Isto agora vai num sino;
‘Stão em vigor as mudanças.
Já tudo bebe do fino,
Mas eu é que não atino
Toda
s estas contradanças.
De há tempos a esta parte
Fazem mudança tamanha;
E como nada há qu’os farte,
Inda hão-de mudar dest’arte
O concelho p’ra Gafanha.
Isto assim já não vai mal,
Vai mesmo bem, rico filho.
Na redacção do jornal,
Nosso colega local,
Vai haver grande sarilho.
Que riso! Que piadão!
Não percebo a trapalhada.
Já tiraram a prisão
P’ra pôr a Administração
Nessa redacção safada.
Que mais irá lá parar?
(Sem muda não fica nunca).
Já a ouvi nomear,
E não é de admirar,
Pelo nome de espelunca (!)
Quem me não acreditar,
Quem nisto não tiver fé,
Ou julgue qu’isto é brincar
Faz favor de perguntar
A um cabo da G.N.R.
PIRO LITO
Beira-Mar, 20/2/927
GAZETILHA
Tal e qual casta donzela
Envolvida em alva túnica,
O Ilhavense – a masela
Da nossa terra tão bela –
Stá com medo da “Frente Única”
E a seu respeito o vendido
Faz por lá tanto aransel,
Qu’eu cá ‘stou convencido,
Qu’aquele enorme alarido
É para encher o papel
Diz mal de todos à farta.
Não se lembra o Zé Maria
Daquela célebre carta
Do patrão que – Santa Marta –
Nem o diabo escrevia.
Dessa cartinha afamada
Que lhe mandou o patrão,
(De tudo o alma danada)
Não quero dizer mais nada,
Pois m’estala o coração.
E mesmo não é preciso
Qu’eu o venha aqui dizer,
Pois de um modo mui conciso
Toda a pessoa de siso
O deverá já saber.
Mas o homem, coitadinho,
Não se lembra dela já;
Ou talvez o patrãozinho
Lhe faça algum favorzinho
Qu’agora não vem p’ra cá.
Hei-de ver o patrãozinho
(E isso já ele o fez)
Abandonar o Zezinho,
Deixá-lo a ele sozinho,
E dar-lhe tres pontapés.
PIRO LITO
Beira-Mar, 3/4/927
GAZETILHA
o Modesto, bom rapaz
Mesmo mui bom rapazinho
E que de tudo é capaz,
Tantas coisas diz e faz
Que parece estar tolinho.
Por não ter mais que dizer
Meteu-se agora co’a Frente.
Põe-se então a escrever
A seu respeito o que quere
E que faz rir toda a gente.
Não qu’é mesmo engraçado
É mesmo muito int’ressante
O que diz esse safado;
Embora seja mandado
Por outro grande tratante.
Co’aquela declaração
Do pseudo-chefe da Frente
Ficou o Zé casmurrão;
E sai-se com esta então
Que já fez rir toda a gente.
Mas rir muito e a bom rir.
- Ö chefe poz-se a cavar”.
-
E da chefia sair
Se nunca chegou a entrar?
Não é decerto o Zézinho
Que faz aquele alarido,
Mas somente o patrãozinho,
Que com um certo geitinho
Faz tudo andar divertido.
Arranja outro capitão
Já qu’aquele ser não quis.
Combina lá co’patrão
Que por ter bom coração
Em tudo mete o nariz!
PIRO LITO
Beira-Mar 10/4/927