de Ílhavo a Oeiras passando por Moçambique

um blog de Manuel Machado da Graça, onde se vão publicando textos e gravuras que ele nos deixou, fotos e outras recordações.

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Localização: Maputo, Mozambique

domingo, junho 11, 2006

Crónica do Bico

CRÓNICA DO BICO

PARA AS DUAS MANAS LEREM E SE LEMBRAREM,

LÁ NA CAPITAL, DA HORA DO “BICO” .

Todos conhecem o “Bico”.

É aquela lingua de areia que, num gesto de arremetida, se meteu pela ria dentro, mas que ao chegar ao canal, talvez com medo, retrocedeu um pouco.

É no “Bico” que se passam as melhores horas da praia.

É nele que se concentra ainda parte do à vontade característico da Costa doutros tempos.

É dum cantinho onde me não vêem que eu vejo o “Bico”.

O Zé Julio – sempre dos primeiros a chegar – envergando já o seu maillot, faz com o primo Chico uma demonstração de saltos de peixe.

A Ma. Amélia e a tia, por detraz das ultimas barracas, aturam com toda a paciência um certo número de ‘bicos’ que no “Bico” fazem ponto de admiração.

É o Fernando (Conde da Costa), o Frinchas (Pratas do Largo dos Lóios), o Zé Craveiro (um dos mais altos banhistas), o Ernesto (à ultima hora tio das duas manas), o Chiquinho (o dos Fados na Assembleia) e tantos outros que os não posso enumerar.

Falam de tudo e de todos e em particular do ultimo número da Beira-Mar.

A Ma. Amélia mede bem as suas palavras, com mêdo do reporter; contudo às vezes falha e …é o diabo.

O Carlinhos, mais ao longe, abriga sob o seu chapeuzinho todo o seu grupo, e fala … de modas.

Mais adiante, à revessa duma barraca, a Odete e a Lurdes ouvem com atenção o Grilo a contar a história do homem que foi a uma taverna.

Lá ao fundo, ao sul do “Bico” há um desafio de Foot-ball. A Floripes petit em passes curtos conseguem passar à capa o António (o do gramofone) e meter goal. Noto que a Floripes está em boa forma.

xXx

Na segunda-feira fui pela ultima vez ao “Bico”.

Quanto me custou o retirar-me, ao lembrar-me dos bons bocadinhos que lá passei!

De dentro duma barraca, quando eu fazia as minhas despedidas, uma voz feminina cantou com todo o sentimento esta quadra:

Eu não gosto nem brincando

Dizer adeus a ninguém

Quem parte leva saudades

Eu já esperava o último verso que era como que um alívio para a minha saudade, quando doutra barraca próxima uma voz máscula terminou:

Quem fica não vai no trem.

Reporter

Beira Mar 15/06/ 1927

2 Comments:

Anonymous Anónimo said...

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4:43 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

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11:18 da tarde  

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