SONETOS
O primeiro é a despedida do quarto onde viveu em Coimbra no seu ano de caloiro.
A DESPEDIDA
É ser ingrato, talvez, deixar-te agora
Quando já estava tão habituado
Mas tem de ser, amigo. É o meu fado,
Que m´ obriga a sair daqui p´ra fora.
Adeus ó quarto. Adeus que vou-me embora.
Vou deixar-te sozinho, abandonado,
Talvez que alegre, e talvez torturado
A pensar no futuro a toda a hora.
Passei aqui um ano ou quasi um ano,
Sonhando à noite belos sonhos d´ oiro.
Passei o tempo bem sem algum dano.
Não te desejo, ó quarto, um mau agoiro
Pois não era decerto muito humano
Desejá-lo ao meu quarto de caloiro.
Coimbra 1/7/927
O MESTRE
O mestre é o papão negro dos rapazes
Que passam sua vida a estudar,
E é porque não são disso capazes,
Senão depressa os punham a cavar.
Contra ele são os ditos mais mordazes
Que se possam no Lexicon achar,
São uns entes tão diferentes que as pazes
Entre eles, nunca mais se podem dar.
Parece verem o mestre contente
Quando algum se está esticando
Tendo da cólica, a dor mais pungente.
Por isso ouvi dizer, já não sei quando:
Acabem-se c´os mestres de repente,
Pois são no mundo, o crime mais nefando.
Braga, 6/7/926
O EXAME
Hav´rá coisa mais chata que o exame
P´ra quem não sabe dele patavina?
Que não estudou nenhuma disciplina
Ou outra coisa qu´assim também se chama?
Não. Não há coisa que menos se grame
E que aos cábulas seja tão mofina,
Do que essa tão reles sabatina
À qual o burro douto chama exame.
É no seu tempo qu´a cólica aperta
Fazendo-nos andar de diarreia,
Por parecer-nos ter a gata certa.
A gata, essa bichana qu´é tão feia
E contra a qual é preciso andar alerta
Pois é o que mais o cábula receia.
Braga, 24/7/1926
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