Senhora das Dores
SENHORA DAS DORES
Piadas sem piada e que não ofendem.
A tarde ia em meio. O sol queimava;
E da estrada,
Tanta nuvem de pó se levantava,
Que se não via nada.
A tarde era calmosa e estival,
E nem a brisa
Em nós se faz sentir. Por nosso mal,
Tivemos d’ir em mangas de camisa.
xxx
Emfim cheguei. A quinta ‘stá animada
E já grupos se veem a manjar
A merenda frugal, mas bem regada
Qu’em casa prepararam p’ra levar
Há menino, por lá, que resolvido
Vai a provar de todos os farneis.
Assim, dum deles, furta algum cosido
E a outro vai roubar alguns pasteis.
A mim também me deu a maluqueira
(Não quero que digam que de mim não falo)
De andar mais outro um’hora quasi inteira
À procura de um galo.
Quando demos c’o grupo possuidor
De tão belo manjar,
Nem um ôsso do galo tentador
Havia p’ra tragar.
Não sei porque razão e porque fado
O Amadeu, esse rapaz tão belo,
Se achou na festa tão apoquentado
C’uma pertinaz dôr de cotovelo.
O Landrú quando veio lá de Aveiro,
(E eu digo isto, por não ser segredo)
Por nada existir já do merendeiro,
Pôz-se a chuchar no dêdo.
O Grilo conta histórias com piada.
A Frasquita e a Mi desejam ter
As bolsas e a carteira recheada
De dinheiro a valer.
Não sei s’acham bonita ou engraçada
S’acham mesmo alguma piadinha
À frase da Mimi, tão costumada:
“Riam-se. Ora vêjam! Que gracinha!
XXX
Eu sinto agora tal melancolia,
E sinto mesmo uma tristeza infinda
Ao pensar que p’ra vir tão belo dia
Eu tenho de esperar um ano ainda.
FORASTEIRO
Beira-Mar, 24/4/927
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